COLEÇÃO ARQUIVOS - TESOUROS ETERNOS DA LITERATURA IBERO-AMERICANA
Livros à mancheia têm-me chegado nestes últimos meses, levando-me a um profundo mergulho no tempo. A uma reflexão intensa sobre o quanto desconhecemo-nos, ainda que parte imensa nesta América, latina e de proporções gigantescas no tocante a problemas, sim, mas também no tocante à riqueza cultural.
Muitas das edições que tenho recebido não são atuais, porém preciosas ao nosso processo de busca e de integração, no qual o fator cultural faz-se imprescindível. Sem conhecermos o passado, lutamos por uma identidade inexistente, segundo alguns autores especializados no estudo e na pesquisa do fenômeno cultural ibero-americano. E as novidades, às vezes antigas, nos impedem este retorno urgente à nossa formação, à nossa certeza de que somos dignos de respeito pela produção incrivelmente abrangente de nossa arte, especialmente de nossa literatura.
A UNESCO PUBLISHING tem sido uma das responsáveis pela redescoberta desses tesouros eternos que precisamos inserir em nosso presente. Através da COLEÇÃO ARQUIVOS, têm-se registrado obras de extrema importância, tanto no universo literário propriamente dito, como no histórico, que nos permitem interpretações mais exatas de personalidades, autores e obras por vezes lidas sem a devida atenção e dedicação.
A Origem da Coleção
Em 1971 Miguel Ángel Asturias decidiu entregar seus manuscritos à Biblioteca Nacional da França, sob a condição de que o Centro Nacional de Investigações Científicas francês realizasse o estudo e a edição crítica dos mesmos. Este gesto singular desembocaria, anos mais tarde, numa iniciativa multilateral, que associaria órgãos internacionais e nacionais de investigação de doze países. Esta iniciativa concretizou-se a 28 de setembro de 1984, em Buenos Aires, sob a direção de Amos Segala, sob o conceito de Coleção Arquivos (ou Colección Archivos).
O estudo dos rascunhos de Miguel Ángel Asturias, das variantes e das etapas de sua escrita modificou a imagem canônica do Prêmio Nobel 1967 e impôs uma revisão dinâmica, internacional e pluridisciplinar de sua obra, cuja edição ficaram a cargo da Kincksieck de Paris e do Fundo de Cultura Econômica de Madri. As lacunas a respeito do ser Asturias em essência, assim como a relativa dispersão de sua obra post mortem, levaram a associação fundada pelo escritor a ampliar a reflexão sobre o destino – material e crítico – dos manuscritos literários do século XX e a estudar uma ação multilateral de salvaguarda e valorização destes testemunhos reveladores de uma identidade latino-americana. Realizaram-se, assim, vários encontros internacionais de especialistas das mais diversas disciplinas e tendências metodológicas da maior parte dos países americanos e europeus. Após a constatação de que o momento era propício para avaliar, fundir e enriquecer o discurso historiográfico de várias experiências na realização de coleções literárias latino-americanas – e de outras áreas lingüísticas –, os participantes elaboraram um esquema padrão para os volumes da nova coleção e estabeleceram uma lista de autores e de coordenadores que viriam a realizar as edições dos clássicos latino-americanos do século XX.
O Desenvolvimento do Projeto
Em sua fase inicial, a UNESCO desempenhou papel fundamental na concretização da Coleção, não apenas possibilitando financeiramente as reuniões preparatórias, mas também introduzindo a temática do programa entre as preocupações da Organização, mobilizando grupos regionais e, sobretudo, eliminando toda conotação de obediência ideológica e política que pudesse classificar a iniciativa como uma manifestação de orientações extracientíficas. Em 1983 o CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique) da França e o CNR (Consiglio Nazionale delle Ricerche) da Itália, em parceria com a UNESCO, organizaram um colóquio em Paris, que reuniu 80 especialistas da América Latina, Europa e Estados Unidos para discutir os objetivos críticos gerais da Coleção, assim como seus critérios metodológicos, seus autores e coordenadores.
Representantes de quatro países da Europa (Espanha, França, Itália e Portugal) e de quatro países da América Latina (Argentina, Brasil, Colômbia e México) reuniram-se, a 28 de setembro de 1984, a fim de firmarem um Acordo que previa a edição de 120 títulos nas quatro línguas do Continente, seguindo as pautas e finalidades indicadas no Colóquio de Paris. Ainda em 1984 os professores Giuseppe Tavani, Louis Hay, Manuel Alvar e Jean-Louis Lebrave, dentre outros, apresentaram um seminário, na Biblioteca Nacional de Paris, sobre os aspectos filológicos, lingüísticos e genéticos da nova Coleção. No ano seguinte os coordenadores dos primeiros títulos da Coleção voltaram a se reunir, expondo as dificuldades encontradas na concretização do projeto, o que daria origem ao esquema padrão que regeria a estrutura científica de todos os volumes da Coleção.
Em setembro de 1987 a UNESCO e a Associação Arquivos reuniram, na Biblioteca Nacional de Paris, os responsáveis por vinte bibliotecas nacionais da Europa, América e Ásia, a fim de discutirem o problema da conservação e do acesso aos manuscritos literários do século XX, o que se tornou um dos aspectos fundadores do programa.
No ano seguinte, o CNR italiano reuniu os signatários do Acorco Arquivos em Roma, onde os primeiros resultados concretos do Programa foram apresentados e discutidos, levando o Acordo a ser renovado por mais cinco anos. Nova reunião dos signatários realizou-se em Paris, em dezembro de 1993, resultando na prorrogação do acordo até 2003. Foi, ainda, estabelecida a centralização da produção da Coleção, a fim de se viabilizar o acesso aos leitores do mundo inteiro, sem omissões, com características gráficas e preços similares.
A 1° de janeiro de 1995 o CNRS da França criou um laboratório (URA 2007) integrado pela equipe da Arquivos e pelo Centro de Investigações Latino-Americanas da Universidade de Poitiers. O laboratório foi instalado na nova Maison des Sciences de l’Homme et de la Société, com sede em Poitiers, com a finalidade de reforçar a estrutura científica permanente do Programa Arquivos, além de coproduzir a versão eletrônica da Coleção e assegurar sua coordenação científica. O Instituto de Filologia e Literatura Hispânicas da Universidade de Buenos Aires assume a responsabilidade pelos títulos argentinos, assim como o Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo o faz com relação aos títulos brasileiros. A coordenação editorial da Coleção passa a ser de responsabilidade da Espanha a partir de 1996. A Universidade Nacional Autônoma do México firma acordo com o Programa, em 1995, e assume a realização da versão em CD-Rom da Coleção, apresentando, um ano mais tarde, os três primeiros protótipos dedicados às obras de Juan Rulfo, Carlos Pellicer e Ricardo Güiraldes.
O Ministério de Cultura e Esportes da Guatemala e a Universidade da Costa Rica incorporam-se ao Projeto em 1996, assim como a Biblioteca Nacional do Peru, como membro signatário pelos países andinos. Nos dois anos seguintes concretiza-se a integração do Chile, através da Editorial Universitária do Chile, e da Argentina, por meio da Secretaria de Cultura da Nação Argentina, como signatária e do CONABIP como co-editor.
Até 1998 a Coleção Arquivos publicou 50 títulos de treze países, assinando 70 contratos de coordenação, que envolveram 500 especialistas de 32 países, e preparando um plano de produção que previu a publicação de oito títulos por ano.
As versões inglesa e francesa da Coleção ficou a cargo da University Pittsburgh Press e da Editions Atlantica-Séguier respectivamente, ambas em parceria com a UNESCO Publishing. A partir de 1999 o Ministério da Cultura de Cuba incorpora-se como signatário e a Casa das Américas, como co-editor.
A produção editorial da Coleção teve início em 1988 em gráficas espanholas. O esquema de origem previa que cada co-editor publicaria seus exemplares com os fotolitos fornecidos pela Dirección de Paris. Este esquema produziu assincronias, seleção arbitrária de textos, seqüências repletas de lacunas e, sobretudo, grande diferença na qualidade do papel e da encadernação. Sendo assim, os signatários decidiram, em 1994, centralizar a produção da Coleção na Espanha.
A Coleção tem sido, desde então, objeto de um acordo multilateral de investigações e co-edição firmado entre a Associação ALLCA XX° (Association Archives de la Littérature latino-américaine, des Caraibes et africaine du XXe. siècle) e os órgãos oficiais de investigação científica da Argentina, Brasil, Colômbia, Espanha, França, Itália, México e Portugal.
Objetivos da Coleção:
Desde suas origens, a Coleção Arquivos se propôs a instaurar uma nova maneira de ler os textos latino-americanos (assim como de outras literaturas), tratando as obras representativas do século XX com o rigor lingüístico adequado para se atingir o estabelecimento de textos filologicamente fidedignos e uma valorização específica das variantes de autor, modelando cada volume como uma síntese exaustiva e rigorosamente articulada de diferentes enfoques:
O enfoque textual, que concretiza as exigências complementares de estabelecer um texto fiel e completo – correspondente à vontade do autor – e de apresentar e avaliar seu itinerário de produção.
O enfoque crítico que, através das contribuições dos especialistas contratados e da história da compilação, oferecem ao leitor um repertório hemenêutico vasto, tanto pelos parâmetros críticos aplicados, como pela cronologia e pela procedência internacional de seus testemunhos.
O enfoque historiográfico-cultural, para que os textos publicados sejam reconhecidos como patrimônio comum de todos os países do continente, favorecendo, assim, um conhecimento de caráter mútuo, a integração de diversas heranças culturais e até mesmo uma osmose inovadora nos projetos da comunidade científica deste setor específico de estudos.
O enfoque editorial, que realiza uma modalidade inédita de cooperação e produção técnica entre Europa e América Latina, estabelecendo coedições permanentes com instituições de todos os países signatários do Acordo, garantindo, desta forma, a divulgação simultânea e completa da coleção.
Esquema Padrão dos Tomos da Coleção Arquivos
1.Introdução
→ Liminar → Introdução do coordenador → Nota filológica e estudo genético
2.O Texto
→ A obra → Variantes e notas críticas → Glossário
3.Quadro cronológico
4.História do texto
→ Gênese e circunstância (produção da obra) → Destinos
5.Leituras do texto
→ Temática → Intra-textual → Estruturas, formas e linguagens
6.Dossiê da obra
→ Dossiê de recepção → Correspondências → Manuscritos e documentos fotográficos e iconográficos
7.Bibliografias e índices
Títulos Publicados até 2000:
01.“París: 1924-1933 – Periodismo y Creación Literaria” – Miguel Ángel Asturias 02.”Don Segundo Sombra” – Ricardo Güiraldes 03.”Paradiso” – José Lezama Lima 04.”Obra Poética” – César Vallejo 05.”Los de Bajo” – Mariano Azuela 06.”Macunaíma” – Mário de Andrade 07.”Obra Completa” – José Asunción Silva 08.”El Chulla Romero y Flores” – Jorge Icaza 09.”Las Memorias de Mamá Blanca” – Teresa de la Parra 10.”La Carreta” – Enrique Amorim 11.”Raza de Bronce – Wuata Wuara” – Alcides Arguedas 12.”Poesía y Poética” – José Gorostiza 13.”A Paixão Segundo G.H.” – Clarice Lispector 14.”El Zorro de Arriba y el Zorro de Abajo” – José María Arguedas 15.”Los Días Terrenales” – José Revueltas 16.”Rayuela” – Julio Cortázar 17.”Toda la Obra” – Juan Rulfo 18.”Crônica da Casa Assassinada” – Lúcio Cardoso 19.”Radiografía de la Pampa” – Ezequiel Martínez Estrada 20.”Canaima” – Rómulo Gallegos 21.”Hombres de Maíz” – Miguel Ángel Asturias 22.”Al Filo del Agua” – Agustín Yáñez 23.”Tradiciones Peruanas” – Ricardo Palma 24.”El Árbol de la Cruz” – Miguel Ángel Asturias 25.”Museo de la Novela de la Eterna” – Macedonio Fernández 26.”Todos los Cuentos” – Horacio Quiroga 27.”Viajes” – Domingo Faustino Sarmiento 28.”Mensagem – Poemas Esotéricos” – Fernando Pessoa 29.”El Hombre que Parecía un Caballo y Otros Cuentos” – Rafael Arévalo Martínez 30.”Triste Fim de Policarpo Quaresma” – Lima Barreto 31.”Adán Buenosayres” – Leopoldo Marechal 32.”Poesía Completa y Prosas” – Julio Herrera y Reissig 33.”Libertinagem – Estrela da Manhã” – Manuel Bandeira 34.”Sudeste – Ligados” – Haroldo Conti 35.”Ensayos” – Pedro Henríquez Ureña 36.”Obra Poética” – Ramón López Velarde 37.”Obra Incompleta” – Oswald de Andrade 38.”Obra Completa” – Oliverio Girondo 39.”Ulises Criollo” – José Vasconcelos 40.”Obra Completa – Tomos I y II” – Severo Sarduy 41.”Obras Completas” – Pablo Palacio 42.”El Beso de la Mujer Araña” – Manuel Puig 43.”En los Estados Unidos – Periodismo (1881-1892)” – José Martí 44.”Los Siete Locos – Los Lanzallamas” – Roberto Arlt 45.”Poesía Completa” – Vicente Huidobro 46.”Cuentos y Leyendas” – Miguel Ángel Asturias 47.”El Señor Presidente” – Miguel Ángel Asturias 48.”Mulata de Tal” – Miguel Ángel Asturias 49.”Maladrón” – Miguel Ángel Asturias 50.”Teatro” – Miguel Ángel Asturias
Visite o site da UNESCO PUBLISHING: www.unesco.org/publishing
Leia a resenha sobre o 23° Tomo desta Coleção em: “Tradiciones Peruanas de Ricardo Palma”. ____________________________________________ Tânia Gabrielli-Pohlmann é escritora, tradutora paulistana, radicada na Alemanha, onde produz e apresenta dois programas de rádio, dedicados à história, à cultura e à música brasileira: “Brasil com S” e “Revista Viva” (com Clemens Pohlmann). Colabora com diversas publicações culturais. Professora de Língua Portuguesa na Volkshochschule. Contatos: a-casa-dos-taurinos@osnanet.de
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