– O que é essa sujeira aqui em volta? – Você nunca tinha reparado nela? – Está aí há muito tempo? – Há muito tempo! – Tem alguma coisa diferente hoje. Venho sempre aqui no centro. Sento-me todo o dia neste banco e nunca reparei nela. – É porque hoje está cheirando! – Outros dias, não cheira? – Nem sempre! – E o que é, afinal? – É tica! – Ética? – Não, não disse ética, disse que é tica! – Que tica? – É tica, ora essa! – Tem certeza que é tica? – Sim, mas acho que é tica na ética! – Como é que é tica na ética? Tá confuso, não? – Não! – Só, não? – Só! – Quem pôs tica na ética? – Os chorões! – Eu gosto dos chorões, eles dão uma sombra maravilhosa. Conhece a rua do rio? Lá está cheio de chorões. Bonito! Os galhos escorrem para baixo como lágrimas... Lindo! Mas tem poucos pássaros nos chorões. Nunca vi se debaixo deles, o que tem é tica! – Não falo dos chorões do rio! – Não? – Não! – De quais? – Dos outros! – Ah! Entendi! – O quê? – Aqueles chorões que o que mais produzem é tica! Certo? – Certo! – Eles pensam que é ética, mas é tica! – Você viu? – O quê? – Os chorões... – Vi um! – Eu vejo muitos... – Onde? – Onde o que mais tem é tica... – Tá cheirando mal, né mesmo? – Nem começou... Tchau! – Tchau!
Airo Zamoner é escritor http://www.protexto.com.br
CADASTRE-SE
GRATUITAMENTE
Você poderá votar e deixar sua opinião sobre este texto. Para isso, basta informar seu apelido e sua senha na parte superior esquerda da página. Se você ainda não estiver cadastrado, cadastre-se gratuitamente clicando aqui