Faxina
Eu não gosto da palavra faxina. Prefiro a palavra arrumação, para definir quando arrumo tudo e deixo bem limpinho e organizado, para aos poucos ir desorganizando novamente. Mas hoje, o que vou fazer, quero nomear de faxina, porque é o que melhor define a arrumação a ser feita. Será uma faxina geral, que certamente não será fácil, mas terá que ser feita por mim, por ninguém mais. Chegou a hora. A hora de me desfazer do que é tão meu e que fui acumulando durante tanto tempo, como se algum dia pudesse voltar no tempo e tudo reviver. Como se possível fosse. Utopia... Coloco uma roupa confortável, tiro os sapatos, prendo os cabelos, sintonizo o rádio numa estação que só toca MPB e aí então ando pela casa sem pressa, parando em cada cômodo, para ver se ele me “convida” a entrar. Meu pensamento vai à frente, a recordar cada minuto ali vivido, cada pedaço de minha vida que ali deixei. E foram tantos... Tristes, alegres, mas vividos. Bem ou mal, mas vividos. Resolvo começar pelas roupas... Olho então uma por uma, deixando de lado as que eu não quero mais e as que ainda têm alguma utilidade. Tirar o velho para dar lugar ao novo é o que dizem. É... O velho tem que sair de cena para que o novo assuma o seu lugar. Ou não? Reorganizo os armários, deixo-os limpinhos e perfumados. Cada tipo de roupa na gaveta certa. Cabides diferentes para diferentes roupas. Cada coisa em seu lugar. Como sempre tinha sido. Não foi fácil. Eu arrumava, olhava, não gostava, reorganizava, voltava a olhar... Até que gostei e deixei como estava. Foi como tratar cada pessoa de uma maneira, despedindo-me de algumas e de outras tendo a certeza de ver novamente, respeitando cada uma em suas diferenças, como muitas vezes fiz e como muitas outras deixei de fazer, pois sou humana e passível de erros. Enquanto isso meu pensamento ganhava asas e viajava no tempo, fazendo-me relembrar retalhos de minha vida... Embarquei no tempo, voltei ao passado tão distante... Passei o dia todo arrumando as roupas, que usava de acordo com meu estado de espírito. Já era noitinha quando parei para tomar um banho, lanchar, assistir um pouco de televisão e depois dormir. Mal o dia começou e lá estava eu recomeçando minha faxina pelas “roupas que vestiam minha casa”. Tanta coisa guardada à espera de ser usada um dia que nunca chegou... Tanta coisa
Heloisa
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