Mão invisível apagou a luz do dia
E ajudou a noite a se vestir de gala
Para assistir à orquestra animada
De sapos, grilos e gafanhotos da floresta
No teatro encantado da lagoa em festa.
Os peixes em cardumes,
Encharcados de perfumes,
Também compareceram:
Eram lambaris, acarás,
Traíras, piranhas cheias de manha,
Piavas, jundiás,
Mussuns de longa trança,
Bagres, tainhas, pacus
Tucunarés, cascudos,
Surubins, curimbatãs,
Mandis, piaus, tilápias, jaús
e tantas outras espécies
Que me não vêm agora à lembrança.
Até dona Saracura,
De mão na cintura,
Também se apresentou.
Ia aos pinotes
Contando para toda a gente
Que, ao buscar água na enchente,
Quebrou três potes, quebrou, quebrou três potes.
Todos entraram no Teatro de Cristal.
Já estava pronta a orquestra musical.
Em ordem estavam os instrumentos.
Dona Perereca, pererecando alegremente,
Foi avisando a toda a gente
Que já ia começar o festival.
No Teatro Encantado de Cristal.
O maestro Cururu,
Velho, calvo e já sem dentes,
Deu ordem para a orquestra começar.
Eram sonidos estrídulos e finos,
De flautas, flautins e violinos,
Executados pelos grilos do banhado.
Fortemente ressoou o contrabaixo
Do sapo-boi.
O maestro, apressado,
Foi dizer-lhe tocasse mais baixo.
Os sapinhos tocavam reco-recos,
Que, em secos ecos,
Se perdiam no salão.
Um gafanhoto, soltando perdigoto,
Interpretava na sanfona a suave sinfonia
Do sertão.
De repente, um sapo arranca um trêmulo esdrúxulo,
No acordeão.
Outro começa depressa a bater colher desafinadamente.
Enfim, é um berreiro que atordoa tudo,
Deixando todo o mundo surdo..
Eram ruídos de tarraxas,
De contrabaixos, violas, violões e violinos,
De pandeiros de borracha,
Sapo que coaxa e desatarraxa
As cordas dos bandolins
E passa graxa
Nas costas dos barulhentos tamborins.
Um sapo quase se racha e se esborracha
De tanto bater na caixa.
O maestro Cururu
Foii ficando jururu.
Os sapos não seguiam mais
Nem passo, nem compasso.
Outros saíram dançando sambas
Entre a platéia quase cheia do salão.
Somente o sapo-boi,
Que era destro,
ficou fiel ao maestro.
Já tonto de tantos pontos e contrapontos,
O anuro desengonçado
Joga de lado
O contrabaixo de repente;
O maestro descontente
Foi gritando ao sapo-boi;
“Que foi, que foi?”
Dona Saracura,
Que nada atura
Sem falar,
Começou a dar vaias
Do seu lugar.
Rãs e pererecas,
Todas sapecas,
Começaram a chiar
Pelos cantos encantados
do Teatro musical. Sapo Cururu, Que não dá ponto sem nó, Parou tudo com a festa , Sem dó. E todos foram-se embora, Em boa hora,
Porque já vinha chegando a madrugada.
E o silêncio voltou a imperar
Na lagoa encantada em festa.
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